Acredita-se que esse vilarejo isolado, cujo nome vem de um herói da independência, tenha ancestrais negros. Situado no sudoeste do México, fica no meio de um grupo de cidadezinhas cujas origens remontam aos escravos africanos que foram levados para lá no século XVI.
Quantas pessoas estão dispostas a demonstrar orgulho por isso? É o que se verá nas respostas à pergunta que o governo mexicano fará à população, “Você se considera negro?”. Ou afro-mexicano. Ou “moreno”, ou “costeño”, alguns dos outros termos para descrever o status racial.
Uma pesquisa oficial recente questionou a ascendência africana e a denominação de preferência de cerca de 4.500 famílias como parte de uma enquete nacional que envolverá 6,1 milhões no ano que vem. Ela permitirá uma rara estimativa oficial do total da população negra, que até hoje só foi calculada na base das estimativas.
“É uma proposta importante; afinal, a população negra até agora esteve invisível”, afirma Sagrario Cruz-Carretero, antropóloga da Universidade de Veracruz.
O fato de o México se preocupar em definir sua identidade negra é um grande avanço em um país onde raça é um tema que raramente se discute em público e o preconceito e a discriminação, tanto explícita como indireta, são lugares comuns. Até agora, o país se mostrou fora de sintonia em relação a outras nações latino-americanas, incluindo Brasil, Argentina e Colômbia, que incluíram a questão racial no censo.
Na versão mexicana, só se perguntava se algum dialeto tribal era falado em família. Essa informação era usada para avaliar apenas o tamanho da população indígena. Os afro-mexicanos encaram essa contagem como um prólogo ao reconhecimento oficial pela Constituição, o que acarretaria um estudo mais aprofundado de sua história e melhores serviços às suas comunidades.
Os poucos políticos de origem negra geralmente disfarçam as raízes familiares e muitos mexicanos nem têm consciência dela. Quando saem de suas comunidades, os negros reclamam de serem parados a toda hora pela polícia, acusados de serem imigrantes ilegais. E têm que tolerar olhares inquisidores dos compatriotas. Esse estranhamento ocorre, em parte, pelo fato de os mexicanos negros se limitarem apenas aos três estados do sul, Oaxaca, Guerrero e Veracruz.
Nesse vilarejo em Oaxaca, por exemplo, a ancestralidade negra é dada como certa. Israel Reyes Larrea, que batizou a filha de África, se dizia “afro-índio”, mas desde que se mudou para a região e se casou com uma negra, se descreve como negro. “Não é só questão de sangue, mas a forma como você se vê cultural e politicamente”.
Seu filho Hernán, de 22 anos, participa da “Danza de Diablos”, cerimônia tradicional de música e dança com máscaras demoníacas, um dos muitos costumes desenvolvidos na região pelos ancestrais africanos, ainda muito praticado.
Com o isolamento, muitas comunidades afro-mexicanas sofrem com escolas e estradas decrépitas, negligência essa que gera ressentimento. Candido Escuen garante que mal consegue se sustentar. Ele apoia o censo porque acha que isso chamará a atenção para a comunidade. “Nem importa tanto a forma como somos chamados, é quase tudo a mesma coisa; o que importa é receber ajuda”, afirma
- RANDAL C. ARCHIBOLD
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